segunda-feira, 19 de outubro de 2009

LAB #1 - 8 de Outubro de 2009




Os seis minutos mais belos da história do cinema

Sancho Pança entra num cinema de uma cidade de província. Está à procura de D. Quixote e encontra-o sentado a um canto, de olhos postos no écran. A sala está quase cheia, a galeria - que é uma espécie de varanda - está inteiramente ocupada por crianças barulhentas. Depois de algumas tentativas inúteis de ir ter com D. Quixote, Sancho senta-se contrariado na plateia, junto de uma menina (Dulcineia?) que lhe oferece um chupa-chupa. A projecção começou, é um filme de época, no écran correm cavaleiros armados, a certa altura aparece uma dama em perigo. De repente, D. Quixote levanta-se, desembainha a espada, precipita-se contra o écran e os seus golpes começam a rasgar a tela. No écran ainda se vêem os cavaleiros e a dama, mas o rasgão negro, aberto pela espada de D. Quixote, vai-se alargando cada vez mais, devora implacavelmente as imagens. No fim, do écran já quase nada resta, vê-se apenas a estrutura de madeira que o sustentava. O público, indignado, abandona a sala mas, na galeria, as crianças não param de encorajar fanaticamente D. Quixote. Só a menina da plateia o contempla com ar de censura.
Que devemos fazer com as nossas imaginações? Amá-las, acreditar nelas, a tal ponto que temos de as destruir, falsificar (talvez seja este o sentido do cinema de Orson Welles). Mas quando, mostram o nada de que são feitas, só então podemos descontar o preço da sua verdade, compreender que Dulcineia - que salvámos - não pode amar-nos.


Giorgio Agamben, Profanações. Lisboa: Cotovia, 2006. pp. 135-136.









A partir do texto facultado, cada grupo de trabalho realizou uma representação interpretativa espacial do texto facultado, em que construiu uma maquete em tamanho natural do projecto a realizar no espaço pré-determinado.

Maria Mire - mariamire@sapo.pt

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